Hoje, mais um amigo se foi: o Gilberto. Ano passado, foi o Sartori. Sinto-me como a irmã mais velha que vê seus irmãos mais moços desafiando a lei da natureza: morre primeiro, quem primeiro nasce. Até onde sei e conheço, era a única transplantada no velório e tive a companhia, por poucos momentos, da viúva do Sartori, a Mireme.
É muito estranha a sensação: a primeira coisa que me vem à cabeça, quando sei da morte de um paciente transplantado, é que tal circunstância incide na estatística da sobrevida. "Os transplantados hepáticos têm uma média de vida pós-cirurgia de X anos.". É claro que a relação não é tão exata assim. Uma pessoa que se submete ao transplante aos 65 anos incide sobre o cálculo naquela faixa etária, bem como uma criança de 1 ano que faz a mesma cirurgia.
Bem, esta racionalidade serve, penso eu, pacomo uma veia de escape para a dor e a tristeza que vai no meu peito. Um amigo depois do outro em menos de 1 ano. Mais o Vítor, o Artur e a Sandra, já falecidos há alguns anos. Sempre me lembro: pode ser eu, ali ,a qualquer momento.
Porém, o Reinaldo, a Dona Olinda, eu, o Kraemer, a Juliana e o Carlos, a turma do início da ASTRAF*, segue firme na paçoca. O que me lembra que pode ser qualquer vivente ali naquele momento!
Gilberto, estavas chiquérrimo no caixão! As pessoas talvez se horrorizem com o que estão lendo, mas nós dois sabemos o porquê deste registro. Quantas vezes rimos das nossas doidices pós-tx? E aquela fantasia de enfermeira, teus trabalhos artísticos (a qual tenho um retrato e um deus pagão), tuas costuras, o ponche e os jubijubás deliciosos que preparavas, todas essas lembranças estão registradas na memória. Não tenho nenhuma foto contigo, o que me deixa muito triste.
Mas a tua generosidade e a tua amizade foram um presente da vida pelo qual me sinto muito grata. Certamente, deixaste uma bela lembrança para quem te conheceu.
Desta que te ama,
Claudinha.
*Associação dos Transplantados de Fígado do RS
Um comentário:
Vou entendendo...
RF
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